quinta-feira, 22 de março de 2007

Malleusteratura - O Mito da Doença Mental


Minha leitura de cabeceira ultimamente tem sido "O mito da Doença Mental", de Thomas Szasz. Cabe, portanto, uma curta resenha da obra.
O livro é monocórdio. Seu único tema é a validade da caracterização da psicopatia como doença versus desvio da normalidade. Szasz apresenta múltiplos lugares-comuns, chavões e distorções para validar seu point de vue. Consegue. Até certo ponto.
Szasz é categórico demais ao tentar descaracterizar a doença mental. É claro e notório para todos que há pessoas com problemas de "software" neste vasto mundo azul. O autor procura em seu livro (e, claro, devemos dar o desconto de que foi escrito em 1960!) associar de modo indissolúvel mente e cérebro (Esse debate é interessantíssimo, merecendo um post à parte!). Falha, porém, devido a seus acanhados conhecimentos (na ocasião, repito!) de Neurofisiologia.
Assim mesmo há pontos válidos levantados e deixo a cargo do leitor deste blog a árdua e recompensante tarefa de pensar por si mesmo sobre cada um deles:

1) Existe doença mental?
2) Os critérios para sua definição são objetivos ou subjetivos?
3) Se são objetivos, é realmente possível descrevê-los?
4) Se são subjetivos, como é possível definir alguém como doente mental?

6 Comentários:

Blogger Fred Fomm disse...

Li algo escrito por este homem (acho que no Estadão) na época em que lançaram o 'filme' sobre Virginia Woolf, 2002. Ele escreveu algo sobre o suicídio que não me lembro e não me marcou - caso contrário eu lembraria.

Já Georges Canguilhem faz-nos perguntar se o buraco não é mais em cima: existe doença? Até quanto o estado dito 'normal' varia dos dois estados patológicos básicos, o hyper e o hypo; quantos tons de cinza existem entre o preto e o branco?

Estaremos meeeesmo desvinculados da concepção pré-helênica e ontológica das doenças?

22 de março de 2007 às 22:04  
Blogger Der Hexenhammer disse...

Fredgie,
Szasz defende o direito ao suicídio. Ele diz que o Estado não tem o direito de proibir que um ser humano tire sua própria vida. Uma visão com a qual pessoalmente concordo, pois somos humanos e não abelhas ou cupins.
Quanto à gray area entre doença e higidez, um dos temas abordados pelo Szasz nesse livro é a diferença entre doenças descobertas e doenças inventadas. Concordo com as colocações do polonês. Não podemos negar que a Tuberculose, por exemplo, existe. Vemos o dano tecidual e isolamos o BK. Já umas certas doenças "réumatólógicas", que caem na mesma categoria de Síndromes do Pânico, Distúrbios de Hiperatividade e Fibromialgias, não se enquadram. Ninguém sabe, ninguém viu, o diagnóstico é presuntivo e por exclusão. Em suma, a doença é completamente inventada, geralmente por pesquisadores subsidiados por empresas farmacêuticas que, "por acaso", descobrem uma "droga milagrosa" para tratá-las (como a Ritalina, por exemplo) ou querem requentar as vendas de algum fármaco ultrapassado, como por exemplo o Triptanol.

24 de março de 2007 às 01:44  
Anonymous Antonio Uchoa Neto disse...

A questão é muito simples: o qué é a mente? ela existe, é tangível como um fígado, ou um rim? É possível diagnosticar doença ou mau funcionamento de fígados e rins, pois eles existem, são tangíveis, podem ser comparados, suas funções são conhecidas. E a mente? Repito: ela existe? Se existe, onde está localizada? É possível, é honesto diagnosticar, em termos médicos - e portanto, científicos, objetivos - doença em um "orgão" do qual se desconhece a localização, ou mesmo a própria existência? E o que dizer da prescrição de tratamentos médicos invasivos e desumanos, com base na interpretação subjetiva e conceitual das informações e observações disponíveis em relação ao comportamento do "paciente"? Em resumo, "doença mental" é um problema social com componentes sócio-culturais e éticos, e não um problema médico.

14 de dezembro de 2010 às 18:06  
Blogger JQC disse...

O Antônio está certo ... Aristóteles escreveu o que escreveu a muito tempo e nem por isso deixamos de perguntar "o que" "para que" e "como" para tudo. Agora, usar como justificativa e falar de avanços da Neurofisiologia, é justamente o que Szasz condena, é le-lo e não entender nada. O mesmo temos que fazer, de acordo com Szasz, a respeito do mito de doença mental, é pura e verdadeira? Ou é uma desculpa para separar, afastar, punir a diferença, e quando estamos fazendo isso, estamos nos afastando daquilo que nos incomoda, nos questiona, nos critica. Na verdade, somos egoístas.
Vou mais longe e falo do "mito da doença" qualquer doença. Não são as doenças causadas pela falta de cuidados, de atitudes preventivas? E se assim for, não somos todos responsáveis e poderíamos controla-las? As doenças são fabricadas para vender remédios. O que seria da industria farmacêutica se não tivéssemos doentes?

20 de junho de 2011 às 16:40  
Anonymous Anônimo disse...

Acabo de chegar da Feira do Livro em POA aonde encontrei O Mito da Doença Mental num balaio de saldos por 7 reais, assim, numa olhada rápida, de passagem. Comprei na hora, sem pestanejar. Dando uma pesquisada pra conhecer melhor a obra cheguei aqui, e pelo pouco que já vi acho que fiz uma ótima compra.
Já passei por duas internações compulsórias, sofri o diabo nas mãos dos charlatões, busquei ajuda terapêutica outras vezes voluntariamente, e só me ferrei. Para exemplificar: Coleciono uns cinco diagnósticos psiquiátricos. Obviamente, quem tem cinco não tem nenhum. Não quero me estender demais, talvez volte para comentar as impressões que a leitura do livro me causarem. É relatar algo mais da minha experiência, um verdadeiro pesadelo, que ainda não teve um fim.

12 de novembro de 2016 às 19:37  
Anonymous Anônimo disse...

Errata: "... que a leitura do livro me causar...", no infinitivo.

12 de novembro de 2016 às 20:05  

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